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sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Segredos do cerrado

Segredos do cerrado


Eu nasci lá no cerrado
No cerrado me criei
Vendo planta, ouvindo bicho
Entendendo a sua lei
Amolando a minha enxada
Minha roça eu plantei

Pisei em cabeça de frade
Muito espinho eu entortei
Acordei um catingueiro
Na sombra do pequizeiro
Mais que ele eu assustei

Cerco o fogo com acero
Da mamona tiro azeite
Pra acender meu candeeiro
Armadilha na florada
Marimbondo e abelha
Caindo na teia da aranha rajada

Se planto minha roça
Longe da palhoça
Gasto tempo à toa
Capivara gosta 
De comer minha roça
Esconder na lagoa [...]

Ararinha canta na serra
Faz seu ninho na barranca
Urutau canta medonho
Quem não conhece espanta

Buriti nasce na água
Na vereda solitário
Do seu fruto eu faço doce
E guardo sua palha
Jataí é inofensiva
Mas seu mel é decisivo
Pra curar minha garganta [...]

Meu carro de boi
Quando roda calado
Põe azeite no cocão
Quando roda pesado
Ele canta afinado
No tom desta canção [...]

Segredos do cerrado. Cantigas da sombra e da claridade (CD), de Sons do Cerrado, UCG/ITS

Fonte: 
Geografia de Goiás
Ivanilton José de Oliveira
Tadeu Alencar Arrais
Editora Scipione, 1ª edição, São Paulo, 2008

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

O leão

O leão

(Vinícius de Moraes)

Leão! Leão!Leão!
Rugindo como um trovão
Deu um pulo, e era uma vez
Um cabritinho montês

Leão! Leão!Leão!
És o rei da criação

Tua goela é uma fornalha
Teu salto, uma labareda
Tua garra, uma navalha
Cortando a presa na queda
Leão longe, leão perto
Nas areias do deserto
Leão alto, sobranceiro
Junto do despenhadeiro

Leão! Leão!Leão!
És o rei da criação

Leão na caça diurna
Saindo a correr da furna
Leão! Leão! Leão!
Foi Deus quem te fez ou não
Leão! Leão!Leão!
És o rei da criação

O salto do tigre é rápido
Como o raio, mas não há
Tigre no mundo que escape
Do salto que o leão dá

Não conheço quem defronte
O feroz rinoceronte
Pois bem, se ele vê o leão
Foge como um furacão

Leão! Leão!Leão!
És o rei da criação
Leão! Leão!Leão!
Foi Deus quem te fez ou não

Leão se esgueirando à espera
Da passagem de outra fera
Vem um tigre, como um dardo
Cai-lhe em cima o leopardo
E enquanto brigam, tranquilo
O leão fica olhando aquilo
Quando se cansam, o leão
Mata um com cada mão.

Fonte:
A arca de Noé: poemas infantis, São Paulo: Companhia da Letras, 1991