Gestão comunitária está salvando o pirarucu na Guiana
A quantidade de pirarucus na Guiana (Arapaima arapaima) está
se recuperando graças a um plano de gestão comunitário que envolve o governo,
comunidades indígenas e organizações ambientais. Durante um período de
aproximadamente 10 anos, o número de pirarucus adulto com mais de 1 metro de
comprimento passou de 400 para mais de 5.000 peixes, de acordo com as contagens
feitas pelas comunidades da região do Rupununi. Um dos maiores peixes de água
doce do mundo, o pirarucu é um gigante que atinge comprimentos de até 3 metros
e pode pesar 250 quilos. Estes peixes passam até 20 minutos debaixo de água,
mas precisam completar seu suprimento de oxigênio indo à superfície para
respirar. Esta capacidade advém de bexigas natatórias modificadas, que
funcionam como pulmões e é especialmente usada durante a estação seca, quando
as águas estão baixas e pobres em oxigênio. Entretanto, vir à superfície
torna-os alvos fáceis para os pescadores. Na Guiana, pirarucus são protegidos
por lei, junto com o jacaré-açu (Melanosuchus niger), a tartaruga-da-amazônia
(Podocnemis expansa), e a ariranha (Pteronura brasiliensis). A espécie está
listada pela CITES (Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies
Selvagens Ameaçadas de Fauna e Flora), em seu Anexo II, o que significa que
ainda não está ameaçada, mas será a menos que a pesca excessiva termine. Na
Lista Vermelha da IUCN de espécies ameaçadas, a espécie é listada como
"Dados Insuficientes" (Data Deficient).
"Até recentemente, ninguém estava prestando atenção ao
pirarucu", disse Deidre Jafferally, que participa do plano de manejo do
pirarucu desde o seu início. Ela é uma estudante de doutorado ligada ao Centro
Internacional Iwokrama, uma das organizações ambientais envolvidas neste
projeto de conservação. "Embora já soubéssemos que havia problemas, não
havia dados internacionais que apoiassem esta conclusão, porque faltava uma
metodologia de contagem dos peixes".
Por volta de 2001, verificou-se que a sobrevivência da
espécie estava ameaçada, pois as primeiras contagens revelaram o declínio das
populações de pirarucu. Embora a redução tenha sido detectada na década de
1990, os pesquisadores acreditam que ela é resultado de um período de 30 ou 40
anos de pesca excessiva. Os relatos indígenas confirmaram as impressões dos pesquisadores
e deram impulso para criar um plano de manejo. Organizações ambientais como a
IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza) e WWF Guiana (World
Wildlife Fund Guianas) forneceram os recursos em um total de 122 mil dólares
para o desenvolvimento e execução do plano de gestão do pirarucu.
No entanto, enquanto o pirarucu ressurge, a receita advinda
da pesca sustentável ainda não alcançou o vulto previsto, o que levou os
moradores a pedir mudanças no plano.
Rebecca Xavier é uma indígena da tribo Wapishana, da Guiana.
Ela vem da aldeia de Wowetta, uma das comunidades indígenas do Rupununi do
Norte. "Em 2011, fiz parte do projeto de contagem do pirarucu. Eu
trabalhava como assistente do gerente do projeto, um trabalho que pagava um salário
mensal e que me manteve por um ano", disse ela.
No entanto, ela diz que o dinheiro gerado a partir da venda
de carne de pirarucu, nas quantidades permitidas pelo plano de manejo, não é
suficiente para os habitantes de Wowetta, uma aldeia com população de cerca de
330 pessoas. "Esta comunidade não tem realmente se beneficiado com o
projeto, apesar do crescimento da população de pirarucus", disse Xavier.
No início, prometeu-se aos moradores que cada comunidade
iria ganhar perto de $1 milhão em dólar da Guiana (equivalente a 5 mil dólares
americanos) por ano com a venda de carne de pirarucu. Mas Xavier disse que
nenhuma das aldeias, incluindo a sua própria, fez dinheiro substancial com a
implementação do plano devido ao baixo percentual de pesca permitida. O número
de peixes pescados foi uma fração do inicialmente previsto e a receita
produzida com a venda, insignificante.
"Estamos vendo mais pirarucu nos rios e lagos",
disse Michael Williams, coordenador de implementação do plano e também membro
de uma das comunidades envolvidas. Segundo ele, o retorno financeiro
decepcionante para as aldeias fez com que pedissem mudanças no plano, de modo a
aumentar a taxa de captura permitida, na medida em que a população de pirarucus
aumenta.
Surgiram também novas ideias. O plano original só englobava
a pesca e venda da carne. Hoje, as comunidades pensam em outros negócios
potenciais como a pesca desportiva e a aquicultura.
Fonte :
((O)) eco
((O)) eco
Acesso em: 17/05/2014.
Veja a matéria completa no site do ((O)) eco, clicando aqui.
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